O tom do Copom será similar ao das reuniões anteriores — neutro, com viés dovish, sem indicar próximos passos, “como se o Ilan estivesse lá”, disse Italo Lombardi, estrategista-chefe do Crédit Agricole Indosuez. Para ele, seriam necessários mais dados da fraqueza da atividade nos próximos meses para reforçar o argumento em favor de queda da Selic. Só então o perfil de Campos Neto poderia se sobressair. “Em vez de mentalidade gradualista, de “esperar para ver”, talvez Campos Neto defenda mais ativismo” em razão de seu perfil “mais de mercado.”
Riscos assimétricos
A lenta retomada econômica apontada pelos dados de atividade gerou nesta semana a inclusão de apostas marginais de queda da Selic na curva de juros futuros. Segundo Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg, é possível que, já na próxima reunião do Copom e no Relatório Trimestral de Inflação, o BC faça alguma revisão para baixo em relação à atividade. “Pode não eliminar ainda a assimetria dos riscos, mas caminhar em direção a um equilíbrio maior”, disse ela.
Para além da atividade fraca, a inflação também permanece comportada, como mostra o IPCA, que acumula alta de 3,89% nos 12 meses até fevereiro. A meta inflacionária estabelecida pelo BC para 2019 é de 4,25%, com intervalo de 1,5pp para cima ou para baixo.
Peso da Previdência
Para o Itaú, o BC manterá o balanço assimétrico para o lado inflacionário considerando os riscos das reformas, ainda que possa destacar quadro de recuperação aquém do esperado. Ainda há incerteza elevada quanto ao tempo de tramitação da reforma e seu impacto fiscal, o que sugere a necessidade de cautela quanto ao balanço de riscos para a inflação, escreveu Mario Mesquita, economista-chefe do banco, em relatório.
Apesar de esperar o reconhecimento de um balanço de riscos mais positivo pelo lado da atividade moderada, a “visibilidade” sobre a reforma embaça o trabalho da autoridade monetária, disse Cassiana Fernandez, economista-chefe para Brasil do JPMorgan. “Enquanto o BC não souber do timing de aprovação e da magnitude da reforma, será muito cedo para cortar juros.”
Há quem aposte, no entanto, em corte antes mesmo de um avanço concreto da reforma, como o ex-diretor de política econômica do BC, Sergio Werlang. Ele vê uma redução do juro até o meio do ano como uma certeza, dada a fragilidade da recuperação.
“Argumento é muito forte para cortar há dois meses”, disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. “Dado do IBC-Br confirma mais uma vez que a economia está desacelerando”, afirmou ele. Para Gonçalves, o juro ficará parado na próxima quarta-feira, mas uma mudança no balanço de riscos que sinalize corte futuro testará reação ao mercado.
De acordo com Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays, o que “não fecha” na concretização de um corte em cenário de atividade ainda fraca — e sem clareza sobre a Previdência — é o nível da taxa de câmbio. Segundo ele, a taxa se depreciaria a tal nível em face das incertezas que a inflação inevitavelmente sofreria pressão altista do “pass through”.
A cobertura da reunião do Copom será feita também no formato blog pelo TLIV, no terminal, em português, a partir das 17:50. O TOPLive também pode ser acessado pelo app da Bloomberg no celular.