Em abril alguns dos destaques na área internacional: primeiro, um estudo da FAO/ONU mostrando que o crescimento na demanda por alimentos deve se desacelerar nos próximos anos, devido a um menor crescimento da população mundial, uma estabilização em 3,5% ao ano do crescimento da atividade econômica e petróleo ao redor de US$ 65 a 70 o barril. A produção agrícola aumentaria ao redor de 15% neste período. Acho conservador quando se olha todas as mudanças acontecendo no mundo asiático, mas mesmo assim temos chances de crescimento pela frente.
O segundo ponto é o agravamento da peste suína africana na China, que detém 50% da produção mundial. Numa das maiores crises desta década, segundo o Rabobank, cerca de 200 milhões de porcos devem ser abatidos, em um rebanho estimado de 360 milhões de animais. Estima-se queda de 30% na produção chinesa, o que reduziria a demanda por rações (demanda por farelo pode cair entre 10 a 20%).
Precisamos avaliar com que velocidade se dará a inevitável invasão chinesa comprando carnes no mercado mundial, fruto da queda na produção devido ao abate de todos estes animais, que aparentemente não podem ser consumidos. Aqui deve-se considerar: a) a velocidade de infecção na China e outros países asiáticos com baixas condições sanitárias; b) que outras proteínas alternativas podem entrar substituindo a carne suína (outras carnes ou outros produtos); c) o efeito nas taxas de consumo com maiores preços ao consumidor chinês; d) sua capacidade de atuar nos controles e reposição, e; e) os efeitos nos fabricantes de rações para os suínos e consequentemente na importação de grãos. Para o Brasil o impacto num primeiro momento é positivo para as carnes e negativo para os grãos, que em parte precisarão ser redirecionados da exportação para a fabricação de rações aqui no Brasil visando expandir a produção de carnes.
Nos fatos do Brasil, a nova estimativa da produção de grãos feita pela CONAB é de 235,3 milhões de toneladas (m.t.), quase 1% maior que a estimativa de março e 3,4% maior que a safra 2017/18. Quem puxou para cima esta estimativa em relação à anterior foi a segunda safra de milho, que vem tendo bom clima, e deve passar de 68 m.t., estando 2,3% acima da projeção anterior. No total do milho teremos 92,8 m.t., a segunda maior da história, sendo que a safrinha deste ano entregará 10 m.t. a mais que a do ano passado. Para a soja esperam quase 114 m.t., também aumentando 0,3% da última projeção, mas 4,6% abaixo da safra passada. A estimativa de abril também trouxe o algodão com 2,8% a mais, chegando a 2,65 m.t., produção 32% maior que a safra anterior.
Em março as exportações do agro caíram 5,3% quando comparadas ao mesmo mês de 2018. Ficaram em US$ 8,6 bilhões, 47,6% do total de produtos vendidos pelo Brasil. As importações do agro também caíram quase 12%, ficando em US$ 1,1 bilhão. Isto posto, o saldo do mês foi de US$ 7,5 bilhões (4% menor que março de 2018). Praticamente todos os produtos importantes tiveram queda, inclusive a cadeia da soja, com 1,2%, exportando US$ 4 bilhões, as carnes caíram 8,5% e ficaram em segundo lugar, com US$ 1,2 bilhão. Frango caiu 4%, suínos 9%, bovinos 10% e a cana quase 40%. Tivemos uma redução de preços principalmente (o índice caiu mais de 6%) pois os volumes no geral foram 1,2% maiores.
Penso que para chegarmos aos US$ 100 bilhões em exportações outra vez neste ano precisaremos de boas surpresas em outros setores, principalmente nas carnes e milho, pois na soja repetir os quase US$ 41 bilhões será um desafio quase que impossível, pelos menores preços e menor demanda chinesa. A Abiove estima valor das exportações próximo a US$ 33 bilhões, com cerca de 70 m.t. (13,5 milhões a menos), impactados com a volta da Argentina (perdeu muita soja com seca no final da safra do ano passado) e um possível acordo EUA e China.
A nova estimativa do valor bruto da produção (VBP) de 2019 é de R$ 588,8 bilhões, aumento de 0,8% em relação à estimativa anterior. Devemos ter R$ 392,4 bilhões para as 21 lavouras e R$ 196,4 bilhões para as cinco cadeias da pecuária. Para o Plano Safra 2019/20 a CNA pediu ao Governo, entre outras solicitações menores taxas de juros nas linhas de crédito do custeio (redução de 0,5% em média), programa de subvenção para o seguro rural.
A situação da soja e do milho se complicou mais pela redução dos preços em Chicago e em reais no Brasil, redução de volumes vendidos graças à crise chinesa, maiores custos do frente, entre outros problemas. Fora o risco, que deve ser considerado e contornado, de se comprar os insumos da próxima safra com um câmbio a 4 reais e vender os produtos com o real mais valorizado no início de 2020, no caso de aprovação das reformas. Muito cuidado!
Os cinco principais pontos que sugiro atenção agora em maio são: 1) acompanhar a conclusão da segunda safra de milho; 2) a evolução da gripe suína africana na China e os impactos listados acima; 3) o acordo comercial China e EUA; 4) andamento do plantio da safra americana, áreas plantadas com cada cultura e os impactos climáticos, e; 5) do lado Governamental, o caminhar (ainda lento) das reformas no Brasil, o Plano Safra 2019/20 e as ameaças de maior tributação que pairam sobre o agronegócio, sejam em Estados como na Federação.
Terminamos mais uma Agrishow, que considero antes de mais nada uma universidade a céu aberto, pois em cada empresa que se entra uma aula é dada com as inovações e a vontade de vencer. O resultado financeiro foi considerável (6,4% de crescimento) mas o que destaco foi um astral muito melhor em relação às incertezas econômicas e eleitorais de maio do ano passado e mais vontade de arregaçar as mangas e fazer a diferença. Bom maio a todos!
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com