Com o dólar renovando máximas históricas acima de 5,20 reais, produtores no Brasil continuam aproveitando para travar lucros de uma safra plantada quando a cotação da moeda norte-americana estava ainda abaixo de 4 reais, e já encaminharam boa parte das vendas da colheita atual, disseram analistas nesta quarta-feira.
Além de ajudar na formação de preços favoráveis ao agricultor, o dólar em máximas históricas frente ao real também ajuda a deixar a produção brasileira mais competitiva frente a concorrentes como os Estados Unidos, por exemplo.
“Até sexta-feira, cerca de 70% da safra 2019/20 estava comercializada. Este patamar só é atingido na segunda semana de junho ou primeira semana de julho. Ou seja, estamos aí com três meses adiantados na comercialização”, disse a analista Daniely Santos, da Céleres.
O câmbio também está favorecendo vendas antecipadas da safra que será colhida somente no começo do ano que vem, pontuou ela.
Segundo a Céleres, produtores já venderam 12% da produção de 2020/21. “Para a safra futura, os números mostram que isso só acontecia na segunda semana de junho e primeira semana de julho, então também tem três meses adiantados”, comentou.
Ela lembrou que, apesar das preocupações relacionadas ao coronavírus, do ponto de vista da demanda por grãos, especialmente da China, não se vislumbra cenário de redução drástica de consumo.
“Para isso acontecer, tem que se desencadear outros efeitos na cadeia, teria que haver queda na demanda por proteínas, mas isso não é vislumbrado”, disse ela, lembrando que a situação em torno da epidemia está mais bem controlada na China do que na Europa, atualmente.
Sem queda na demanda, disse ela, o Brasil, maior produtor e exportador de soja do mundo na safra atual, “acabou sendo favorecido nos últimos dias”.
“O real desvalorizado não só melhorou a formação de preços no mercado interno, mas os chineses conseguiram comprar mais soja no Brasil do que nos Estados Unidos”, comentou.
“SAFRA VELHA”
Com o avanço forte da comercialização, a soja de 2019/20 já é “safra velha”, destacou o analista da AgRural Fernando Muraro, ao comentar as vendas do ciclo cuja colheita está em andamento.
Ele destacou que muitos produtores conseguiram altas rentabilidades, após terem plantado a safra com o dólar a cerca de 3,78 reais –grande parte dos insumos agrícolas é dolarizado.
Mas ponderou que uma parcela menor dos produtores vendeu soja com o dólar a cerca de 5 reais.
“Eles foram aproveitando, vendendo em fatias. Já entrou algo vendido com o dólar a 4 reais, depois 4,20, 4,5 e 5. Naturalmente…, é como se fosse uma pirâmide. Foi negociado um tantão a 4, 4,3, mas depois foi diminuindo. A 5 reais, teve bem menos.”
De qualquer forma, ele destacou que esta tem sido uma safra negociada com alta lucratividade, apesar da tragédia gerada pelo coronavírus no mundo.
Esse movimento tem permitido que produtores já avancem nas compras de insumos para a próxima safra, especialmente fertilizantes.
Entre 50% e 70% do fertilizante demandado para a próxima safra brasileira já foi negociado, dependendo da região, comentou Muraro, ressaltando que há preocupação de que, quando o produtor estiver negociando a colheita no mercado físico, no ano que vem, o dólar esteja mais fraco, o que impactaria os resultados para aqueles que não conseguiram fixar cotações.
De qualquer forma, no câmbio atual, os valores dos negócios no porto que estão saindo para o início de 2021 já superam o mercado spot.
No disponível, a soja está sendo vendida a 94 reais por saca, enquanto foram reportados negócios a 95 reais para entrega em 2021.
Na véspera, produtores e exportadores do Brasil disseram que as exportações de soja e milho do Brasil em 2020 não devem ser afetadas pela pandemia de coronavírus.