A China pediu aos Estados Unidos que adiem carregamentos de soja de julho para agosto. os embarques estavam programados para o próximo mês, porém, compradores chineses alegam que sua capacidade de armazenamento estaria limitada, segundo informa a agência de notícias Bloomberg. Fontes ligadas ao caso disseram ainda que se trata de um volume de aproximadamente 2 milhões de toneladas.
“Não se trata de um washout ainda. Mas é estranho esse pedido, de repente querendo que todos os embarques de julho sejam postergados em um mês”, disse a fonte.
Navios EUA
Imagem mostra poucos navios, apontados com as setas azuis, saindo dos EUA com destino à China – Foto: Bloomberg
Ainda segundo estas fontes, os compradores de estatais chineses solicitaram por este adiament diante do grande volume de navios que chegam com produtos sul-americanos aos portos da China ao mesmo tempo. E, de fato, os números mostram que a demanda da nação asiática está focada na soja da América do Sul, especialmente na do Brasil.
Depois de exportações recordes no ano passado, os totais já exportados de janeiro à última semana de junho já mostram um acumulado de mais de 40 milhões de toneladas embarcadas da oleaginosa, contra pouco mais de 38 milhões no mesmo período de 2018. Os números são referentes ao último boletim semanal da Secretaria de Comércio (Secex).
E os números dos line-ups no Brasil indicam, segundo explicam analistas e consultores, que os embarques seguem fortes no país, com possibilidade de o junho se encerrar com mais de 10 milhões de toneladas embarcadas este mês.
“Os movimentos seguem atrelados a entregas (de negócios firmados anteriormente) e quase não há espaço para novos negócios nas próximas quatro semanas, com os portos lotados, ou seja, não há cotas novas para embarques”, explica Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting.
PRÊMIOS
Os movimentos têm promovido uma importante manutenção dos prêmios pagos à soja brasileira, ou até mesmo oferecendo bons momentos de alta destes valores ofertados acima das referências praticadas na Bolsa de Chicago.
De 3 a 10 de junhos, os prêmios no porto de Paranaguá, por exemplo, já registram uma alta de até 6,09%, como foi o caso da posição agosto, onde o indicativo passou de US$ 1,15 para US$ 1,22 por bushel acima da CBOT. No junho, de US$ 1,05 para US$ 1,08 com alta de 2,86% e no julho, de US$ 1,16 para US$ 1,20 com avanço de 3,45%.
Além desse foco das compras chinesas no Brasil, o país tem buscado mais soja, com o consumo retomando seu ritmo na nação asiática, apesar dos obstáculos, como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.
“A questão do não acordo entre China e Estados Unidos mudou o mercado. Então, a China agora está absorvendo a soja brasileira e também a Argentina, mas sabemos que os argentinos serão vendedores muito cautelosos, sem ser tão assíduto quanto os brasileiros têm sido” diz.
O executivo explica que o esmagamento da China está voltando ao seu ritmo normal, com cerca de 7,5 milhões de toneladas ao mês, e o consumo de rações no país também volta a registrar algum crescimento, além de o país estar com baixos estoques tanto de soja em grão, quanto de farelo.
GUERRA COMERCIAL X BRASIL
“E com isso a China tem que vir pra cá comprar, e isso mantém os prêmios sustentados por enquanto”, afirma Vanin. O analista, porém, lembra da reunião do G20 que acontece no final deste mês e do provável encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, depois de meses de negociações paradas entre China e EUA em meio à guerra comercial.
“Se houver uma reaproximação de China e EUA e uma possibilidade de os chineses voltarem a comprar nos EUA como vinha fazendo de abril a dezembro, muda bem esse mercado. Então, temos que estar bem atentos à esta questão”, completa.
Em uma trégua dada por chineses e americanos há alguns meses, a nação asiática fez algumas compras de soja no mercado americano como uma sinalização de boa vontade em colocar fim ao conflito. Foram 13 milhões de toneladas, porém, destas ainda faltam ser embarcadas 7 milhões.
Desde então, as compras pararam diante de um agravamento das tensões entre os dois países e os estoques norte-americanos de soja são historicamente altos.
Em seu último boletim mensal de oferta e demanda, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aumentou sua estimativa para os estoques finais da safra 2018/19 para 29,12 milhões de toneladas, contra o número de maio de 27,08 milhões. Para a safra 2019/20, revisou o número de 26,4 oara 28,44 milhões de toneladas.
O reporte trouxe uma análise ainda de especialistas do USDA que acreditam em aumento das exportações totais de soja na temporada 2019/20, que mantém os brasileiros na liderança das vendas.
“As importações globais de soja deverão crescer em relação ao ano comercial 2018/19, e o Brasil deverá seguir como o líder entre os exportadores diante de uma safra maior e também pela preferência da China”, diz o departamento americano.
Nesta temporada, as vendas americanas de soja para China somam perto de 6,9 milhões de toneladas, contra mais de 20 milhões da temporada anterior, no mesmo intervalo.
Fonte: Notícias Agrícolas